ÉPOCA – Qual é o segredo de seu estilo de tocar piano?
Jerry Lee Lewis – Aprendi tudo numa visita que me fez meu primo mais velho, Carl McVoy. Ele era pianista e me revelou os segredos dos estilos do boogie-woogie que ele ouvia pelo rádio. Além disso, a partir das músicas tocadas no Haney’s Big House (bar de música negra de Ferriday, Louisiana, cidade natal de Lewis) misturei tudo com gospel e country e comecei a formular meu estilo. Misturei outros gêneros no caminho, sincopando ritmos no piano: com a mão esquerda geralmente me encarrego dos ritmos sólidos de rock e boogie-woogie; com a direita toco as notas mais altas com filigranas incandescentes e exibicionismo. Partes iguais de fervor gospel e exuberância de palco de Liberace... é o segredo! (risos)
ÉPOCA – Por que o piano não se deu tão bem no rock quanto a guitarra?
Lewis – Claro que se deu bem, basta ver meu caso... (risos) O piano é um instrumento fantástico. Muita gente falhou ao tentar usar um instrumento clássico para tocar rock-and-roll. É difícil. Mas, quando você consegue, o resultado é fantástico.
ÉPOCA – O que você pensa que vai perdurar em seu trabalho?
Lewis – Meu trabalho foi ter ajudado a criar o rock-and-roll, em 1950. Tenho mais de 50 anos de carreira e mais de 50 discos lançados. E influencei muita gente, como a turma do rockabilly. Sou o último roqueiro original, o último homem em pé! (título de seu show) . Meus álbuns vão permanecer pela eternidade, influenciando as novas gerações. É o máximo, não?
ÉPOCA – É, sim, até porque o rock está sofrendo certa decadência. O rock não pode acabar?
Lewis – Não, o rock-and-roll é eterno. Se ele tem resistido por tempo tão longo às modas, por que terminaria da noite para o dia? Há sempre caras tentando coisas novas. Eu falei do rockabilly de meu tempo, e hoje o rockabilly está tão forte.
ÉPOCA – Você tem algum seguidor na cena rockabilly?
Lewis – Não, não vejo ninguém tocando piano como eu (risos) . Me dê um piano e 15 minutos, e você vai sacudir, gritar, se arrepiar e ferver!
ÉPOCA – Videogames como Rock hero popularizam o rock? Você ferveria com um jogo desses, algo como “Piano hero”?
Lewis – Sou um pouquinho velho para isso! (risos) Mas eu penso que jogar videogame com música é algo muito válido. Os games podem despertar o interesse das crianças por instrumentos reais, e assim pode nascer uma paixão pela música.
ÉPOCA – Em sua opinião, os músicos de hip-hop e rap têm qualidade?
Lewis – Esses artistas vendem muito e fazem o mercado continuar vivo. Mas não é meu tipo de música. Sou da velha guarda, sabe?
ÉPOCA – Qual é o tipo de música que você gosta de ouvir?
Lewis – Adoro ouvir e cantar country. Hank Williams (cantor country) foi grande e me influenciou, como o boogie-woogie, o blues, tudo junto.
ÉPOCA – Qual é o significado da música para você?
Lewis – Música é magia. É uma sensação fantástica, e me sinto abençoado em enviar essa energia às pessoas. Não há uma fórmula secreta, tudo é diversão, eu coloco meus dedos no piano, começo a cantar e, quando vejo, a casa vem abaixo! (risos)